Em contraste com as expectativas de carreiras das gerações anteriores, hoje em dia existe pouca segurança em qualquer emprego (se ainda existir algum). Passou o tempo em que os homens tinham uma expectativa de dedicação à uma mesma empresa sólida até a aposentadoria. O sonho da classe média em ter uma casa própria, está se tornando cada vez mais distante nos grandes centros, especialmente para os jovens adultos.
As pesquisas de satisfação com o trabalho mostram índices declinantes, em decorrência de fatores preocupantes, tais como o constante aumento na expectativa de performances irrealizáveis dos contratantes, e por outro lado o imediatismo, impaciência e sensibilidades exacerbadas dos contratados. A maioria dos empresários não sabe se terá uma empesa no próximo trimestre. A maioria dos empregados não sabe se terá emprego na semana seguinte.
Respeito pela hierarquia e pela liderança são valores que estão mais desprezados que nunca, seja na forma do sentimento geral dos empregados pelo gerente do departamento corporativo, ou pelo desprezo da maior parte dos alunos aos professores da escola, dos filhos pelos pais, ou de nós todos pelos políticos eleitos em geral. Até mesmo líderes religiosos não escapam da vulgarização geral.
Não bastasse as constantes notícias de favorecimentos ilícitos na ascendência de alguns, casos cada vez mais aviltantes de corrupção onde deveriam estar exemplos de virtude moral, ainda soma-se essa tendência cultural recente que busca exacerbar a inveja como sentimento preponderante na vida social, ensinando aos pobres de espírito que a culpa de seus fracassos não é das suas escolhas erradas, ou da falta de esforço, mas sim de hipotéticas pessoas más que não querem que a vida dê certo, em geral apontando o dedo para aqueles que exatamente fizeram as escolhas mais difíceis e com trabalho duro se destacaram na hierarquia social.
O mundo não está se tornando imoral. Está se tornando AMORAL. Com isso quero dizer que as pessoas não estão se comportando de forma a infringir conscientemente as boas práticas de convivência social, estão deixando aos poucos de saber quais são essas boas práticas. Isso porque além de termos cada vez menos fontes confiáveis de “saber moral” e de “pensamento ético”, temos grupos organizados pregando o total relativismo em todas as áreas do comportamento humano. E não estamos falando de “quebras de tabus” ou de “aceitação da diferença”. Essa gente está pregando um niilismo com total desrespeito pela liberdade alheia.
A maior parte desses missionários da libertinagem fazem essa pregação para obter aceitação social de seus próprios vícios. Outros fazem para benefício político próprio, mas há também aqueles que buscam a convulsão social e como meio de tomada do poder por guerra civil.
Em ocasiões periódicas da existência humana essa exacerbação do desprezo à moral chega a um auge. Normalmente decorrente de alguma grande mudança econômica, científica ou religiosa, as pessoas tendem a esquecer que o código moral é um cimento que levou milhares de anos de tentativas e erros até chegar a uma fórmula que permite a coesão social.
Fazer milhões de pessoas heterogêneas conviverem e serem produtivas é como construir edifícios realmente complexos e eficientes… leva muitos anos de experiências para chegar aos melhores designs, materiais e técnicas.
E se o nosso atual código moral é o cimento que estamos usando nas melhores construções de hoje, por certo ele é o melhor resultado dos esforços combinados de nossos antepassados. Claro que esse cimento, assim como os demais materiais, pode e deve ser melhorado com ainda mais trabalho e experimentações, legado para as futuras gerações.
Mas … tem uma turma por aí que, por não entender como foi difícil chegar até aqui, ao ver qualquer inconveniente social, pertinente ou não, acha mais fácil derrubar todas as construções, jogar fora todo o conhecimento acumulado, para depois tentar repor com catedrais feitas de qualquer areia.
Existem aqueles que ganham notoriedade, exaltados como “especialistas” por jornalistas sensacionalistas, pois vivem apontando rachaduras inexistentes nos edifícios sociais recentes e antigos. A sua motivação é ganhar mais adeptos para a demolição da moral. Eles acreditam realmente que se os edifícios sociais forem demolidos, outros serão construídos “automaticamente” mais parecidos com os seus valores estéticos. O progressista social não tem noção que ao se destruir e recriar sem usar como referência a experiência acumulada anterior, leva inevitavelmente a um resultado pior. Ele acha que a moral foi criada ontem por um sujeito ranzinza que queria controlar a vida de todo mundo e por isso criou todas aquelas regras estupidas.
A relativização da importância do código moral leva a uma diminuição da expectativa de comportamentos adequados entre pessoas da comunidade. Com essa baixa expectativa, decorre o aumento da desconfiança mútua generalizada. E altos níveis de desconfiança diminuem a capacidade de colaboração para os fins comuns, dificultam negócios, tornam o fluxo de informações mais limitado. Esses fatores vão se tornando uma combinação incontornável para a decadência generalizada de qualquer comunidade.
Nós maçons estamos colocados em uma posição única, onde nos associamos voluntariamente para aprender, praticar e apresentarmo-nos como uma referência de vida moral mesmo se essa moral for esquecida no restante da sociedade.
Então temos não apenas uma oportunidade de reverter o ciclo vicioso que leva à corrosão social. Trata-se de uma obrigação moral para o bem da humanidade como um todo, e em especial das pessoas mais necessitadas de ajuda e oportunidades.
Temos de ser um reservatório de confiança para preservar aquele “Capital Social” tão necessário para o progresso. Existem muitas pessoas que buscam uma base para uma vida moral mas estão sem saber onde procurar referências sólidas sobre o que é o certo e o errado. Numa enorme tempestade de informações conflitantes, de propagandas enganosas, ignorância ensurdecedora, falsas unanimidades, onde procurar abrigo?
A maçonaria se assenta sobre a CONFIANÇA entre irmãos. Mas tem de ser mais que isso. Praticar princípios morais é apenas uma das virtudes que buscamos. Mas essa prática não pode nem começar sem pontos de referência sólidos.
A oportunidade está em defendermos e iluminarmos esses pontos de referência numa sociedade AMORAL, de forma a permitir que as pessoas voltem a estabelecer valores e virtudes sólidos nos seus relacionamentos. Para isso, vamos procurar atrair para os nossos quadros os homens idealistas que se sintam órfãos de fontes de valores morais sólidos. Vamos também evitar perder oportunidades de nos manifestar contra filosofias rasas, sem fundamento experimental ou científico, motivadas as vezes por problemas que não existem ou são irrelevantes.
Não acreditem em falsas maiorias por mais que se mostrem barulhentas e estridentes. Vamos respeitosamente ser menos tímidos para divulgar e mostrar na prática o que acreditamos ser o certo, com a certeza de que muita gente vai nos seguir.
Gil Leça Pereira
Loja Brasília 1693